De um sonho coletivo de 26 vizinhos e vizinhas com vocação para trabalhar com abelhas surgiu a Associação de Apicultores e Apicultoras Familiares de Amapá do Maranhão (Apafama), que fica a 210 km da Capital (São Luís), com participação de jovens e mulheres de comunidades rurais ao redor do município. Este desejo tinha que ser materializado, precisavam de uma sede, de equipamentos e de insumos para estruturar e potencializar a produção e melhorar as condições para a comercialização do mel. Foi deste sentimento que o grupo resolveu elaborar o “Projeto Apicultura Sustentável” para acessar recursos do Fundo para a Promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS), via recursos do Fundo Amazônia/Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), coordenado pelo ISPN.
No último dia 11 deste mês, o que era um sonho se tornou realidade com a inauguração da sede da Associação. Com investimento de R$ 180 mil, sendo R$ 30 mil contrapartida da comunidade em assessoria técnica, o apoio do PPP-ECOS garantiu a construção do prédio, aquisição de 200 caixas para apiários, 120 tonéis para armazenamento do mel, quatro centrífugas e kits de equipamentos de proteção.
“Hoje, é um momento de muita felicidade pra gente. Isto que está acontecendo mostra a força do trabalho coletivo, da potência do trabalhador rural. O projeto pelo PPP-ECOS só veio fortalecer a cadeia do mel e a agricultura familiar no município”, declarou orgulhoso o presidente da Apafama, Raimundo do Carmo.
Segundo o coordenador do projeto, Ezequias Reis, a chegada do PPP-ECOS à comunidade fortaleceu também a organização sociopolítica da Associação.
“Com a entrada dos recursos fez com que muitos sócios permanecessem, além de atrair novos apicultores. Queremos ser referência na produção de mel para a região, de forma organizada e produtiva.”
No momento, o desafio da Apafama é avançar na infraestrutura até estar apta a conseguir os registros sanitários, como o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), e assim, comercializar diretamente a produção para o consumidor e poder participar de programas de compras institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Atualmente, somos obrigados a vender pra atravessadores, onde vendemos um quilo por nove reais. Isso tem depreciado um pouco nosso produto e o valor pago ao apicultor”, explicou Ezequias Reis.
A apicultura tem se tornado uma atividade rentável para o grupo de produtores. Em 2022, a Associação produziu quase uma tonelada de mel. O valor do quilo chegou, de acordo com a demanda, a R$ 9,00. Cada apicultor fatura anualmente, em média, de R$ 4 a R$ 6 mil. A safra acontece entre agosto e outubro de cada ano.
“O diferencial desse projeto é o protagonismo de jovens apicultores sob a orientação e aconselhamento de mulheres, suas mães, mestras no ofício da lida com as abelhas. Outro destaque é o investimento em estruturas simples para o armazenamento do mel, que resolveu um grande problema. Agora, com o mel armazenado em seus próprios tonéis, os apicultores podem negociar e garantir a melhor oferta, ou seja, preço e condições de pagamento”, ressaltou a assessora técnica do ISPN, que acompanhou a execução do projeto, Silvana Bastos.
De um sonho de menina à apicultora
Maria de Fátima Almeida Sousa, 53 anos. Mais conhecida carinhosamente em sua comunidade como Dona Fátima. Casada com o agricultor Elias dos Santos Sousa, mãe de cinco filhos e avó de três netos. Faz da apicultura sua lida, das abelhas uma paixão e do mel alimento que gera renda.
“Eu tinha um sonho desde criança, que era cuidar e trabalhar com abelhas. Acho muito bonito a relação e o cuidado das abelhas com a natureza. Elas têm uma função importante, além de conservar, produzem o mel que é alimento e cura pra muita gente”, disse dona Fátima abrindo um sorriso largo.
A convite da Apafama, ela começou a fazer parte da Associação e atualmente é tesoureira. Iniciou na apicultura com uma caixa. Hoje, são 35 colmeias em consórcio com outras produções, como mandioca, milho, feijão, vinagreira e açaí numa área de 35 hectares.
Dona Fátima trabalha com três espécies de abelhas e chega a produzir em média entre 400 a 500 kg de mel por ano. Esta produção gera cerca de 4 mil reais, aumentando assim sua renda que se soma com outros alimentos, típicos da produção familiar.
“Trabalhar na apicultura para mim é mais do que um ofício, é um esporte, um lazer. Sou muito mais feliz ao interagir com as abelhas, em ser apicultora. Isso eu falo com muito orgulho e prazer. Convido outras mulheres a fazerem parte do projeto. Não é impossível.”
E, esse sentimento e apreço pelas abelhas espalharam também para seus filhos. Além do seu esposo, eles também ajudam no dia a dia dos trabalhos que envolvem a apicultura. Wariston Lúcio Almeida Sousa, seu filho de 12 anos, quer seguir os passos da mãe e já auxilia em algumas tarefas. “É algo extraordinário ver o mel saindo da colmeia, como umas pequenas abelhas podem produzir um mel com sabor irresistível”, falou empolgado.